Segundo
Fernando Pessoa, os efeitos da “dor de pensar” encontram-se resumidos em dois
versos de uma das suas quadras populares: “Porque é que p’ra ser feliz/ É
preciso não sabê-lo?”. Já Manuel António Pina discute de uma forma mais
pragmática a essência da felicidade, chegando à conclusão de que o PIB não é,
de todo, um índice fiável de felicidade. Nisso estamos de acordo.
De
facto, Pessoa não consegue ser feliz devido à sôfrega intelectualização do real,
não conciliando aquilo que deseja com aquilo que realiza, gerando, pois, uma frustração
e um consequente drama de personalidade. É, então, impedido de ser feliz devido
à lucidez, procurando a realização do paradoxo de ter uma consciência
inconsciente. Todavia, ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que não lhe
permite conciliar a consciência e a inconsciência. Gostava, muitas vezes, de
ter a inconsciência das coisas ou de seres comuns que agem como a “pobre
ceifeira” ou que cumprem apenas com as leis do instinto, como o “Gato que
brinca na rua”. Logo, o ortónimo não consegue fruir instintivamente a vida por
ser consciente, mas também pela própria efemeridade da mesma. Assim, a efemeridade
do tempo, enquanto fator de desagregação desperta-lhe o desejo vívido de ser
novamente criança, sentindo a nostalgia da infância como um bem perdido,
“Criança contente de nada”. Tal leva-o à desilusão perante a realidade da vida
e do próprio sonho. Neste sentido, “para se ser feliz é preciso saber-se que
se é feliz”, pois “Não há felicidade em dormir sem sonhos.” Para Pessoa,
não há dúvida de que “Saber é matar, na felicidade como em tudo. Não saber,
porém, é não existir.”
No meu parecer, a felicidade – aquela que se afasta da ingenuidade pueril e inviolável da infância estéril - pode ser algo consciente, matéria palpável e altamente transmissível. Ela surge nos pequenos momentos do dia a dia. Surge da partilha. Surge nos sorrisos trocados com os outros, ou quando nos reunimos com a família. Não será a felicidade uma evolução do pensamento eunuco dos petizes, a materialização dos sonhos e das conquistas e a consciencialização de alguma volatilidade? O que é, aliás, a felicidade, senão a subjetividade dos olhares alheios?
Existamos, enfim!, em
consciência!
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