A condição da mulher na sua relação
com as figuras masculinas tem vindo a ser desvalorizada e subjugada por cânones
totalitários e redutores previamente estabelecidos na literatura, ao longo dos
séculos.
Retratada pelos escritores românticos
como um ser distante e idealizado pelo amante, a mulher circunscrevia-se,
essencialmente, ao ambiente doméstico ou poderia, quiçá, servir como adorno em
ambientes sociais, contígua à própria existência masculina. Além do mais, o
papel de esposa e mãe virtuosas estaria ainda, indelevelmente, interligado com
um estereótipo de beleza ideal, regido por elevados parâmetros petrarquistas,
como podemos comprovar, aliás, desde a poesia trovadoresca, resultando numa
objetificação óbvia e indiscutível deste género.
Em Os Lusíadas, podemos testemunhar
a presença feminina enquanto parte integrante da existência do próprio homem:
ventres maternos, esposas e irmãs do peito lusitano que se distinguiu pelos
seus feitos valorosos. No canto IX, na Ilha dos Amores, a exploração do corpo feminino
como recompensa de atos heroicos faz-nos acreditar que as mulheres eram meros corpos
inabitados com o propósito de serem avidamente consumidos e descartados.
Relativamente a Amor de Perdição,
de Camilo Castelo Branco, também esta obra, que se insere no Romantismo
Português, reforça o ténue papel da mulher na sociedade de então, sendo a sua idealização
emoldurada por Teresa. Nesta crónica de mudança
social, critica-se uma sociedade retrógrada e repressora, assente em desigualdades, a começar pela discriminação de
géneros e pela insignificância social do elemento feminino. De facto, podemos
verificar que Teresa, enquanto mulher, não tem muitas opções de escolha: ou
casa com o primo ou vai para o convento.
Da mesma forma, em Frei Luís de Sousa,
a mulher, neste caso Madalena de Vilhena, é, mais uma vez, demasiado
sentimental e pouco racional, comparativamente ao homem. Logo, o temor a Deus
encontra voz no género feminino, retratado como originariamente pecador e
submetido ao género masculino. Frágil e delicada, perante Telmo e deus, Madalena revela-se
pecadora, adúltera e traidora, submetendo-se ao poder masculino de forma
subserviente.
Torna-se claro que a ideologia dominante masculina tem
como porta-voz Telmo, mas encontra-se igualmente presente no discurso da
própria D. Madalena, edificando-se, desse modo, a crise identitária da
personagem. “Aquele estado” e o perdida “não sei
de quê” são fórmulas vagas que representam um descontrolo físico e emocional
que vem justificar, mais uma vez, a inquestionável fraqueza feminina. A sua
morte simbólica, no final, confirma a perda de identidade da mulher que ousou
seguir o impulso da paixão, desvinculando-se do elemento masculino e aniquilando-se,
assim, pela imposta ordem dominante.
Estas obras permitem-nos, assim, uma
reflexão sobre a conjuntura feminina ao longo dos tempos num diálogo aceso com
a figura masculina, dela resultando a sua inegável subjugação.
Partindo das obras referidas, podemos
fazer uma sólida analogia com o cartoon O jogo dos Galos, de José António
Santos Corte Real, de 2007, in Desigualdades e Preconceitos.
Neste cartoon, observamos o Jogo do galo, em que a totalidade dos quadrados se encontra preenchida com o símbolo genético masculino de cor azul, à exceção do quadrado do meio, preenchido com um único símbolo genético feminino a cor de rosa.
Podemos entender que, sendo este um jogo estratégico, e uma vez que os espaços se encontram todos preenchidos pelo símbolo masculino, o símbolo feminino não terá qualquer hipótese de ganhar seja o que for.
Esta é uma forma metafórica de incapacitar o poder das mulheres num mundo maioritariamente dominado por homens.
Neste cartoon, observamos o Jogo do galo, em que a totalidade dos quadrados se encontra preenchida com o símbolo genético masculino de cor azul, à exceção do quadrado do meio, preenchido com um único símbolo genético feminino a cor de rosa.
Podemos entender que, sendo este um jogo estratégico, e uma vez que os espaços se encontram todos preenchidos pelo símbolo masculino, o símbolo feminino não terá qualquer hipótese de ganhar seja o que for.
Esta é uma forma metafórica de incapacitar o poder das mulheres num mundo maioritariamente dominado por homens.
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