Sísifo, o mais astuto dos mortais, enganou os deuses e a morte por diversas vezes, sendo condenado por Hermes a executar uma tarefa inglória: deveria transportar uma pedra de proporções hercúleas até ao cume de uma montanha. Não obstante, ao alcançar o cume, escapar-se-lhe-ia das mãos, irredutivelmente, deslizando até ao sopé do monte. Sísifo, todavia, recomeçaria a tarefa, sabendo-a, de antemão, vã e sem esperança de um dia conseguir terminá-la.
Recomecemos, nós, tal como Sísifo, se pudermos, sem angústia e sem pressa - diz-nos Torga. E os passos que dermos, nesse árduo caminho do futuro, dê-lo-emos em liberdade. Enquanto não alcancemos não descansemos. De nenhum fruto queiramos, por Deus!, só metade. E, nunca saciados, vamos colhendo ilusões sucessivas no pomar - uma e outra e outra! Sempre a sonhar e vendo, acordados!, o logro da aventura. Somos seres humanos, não nos olvidemos! Só é nossa a loucura onde, com lucidez pessoana, nos reconheçamos. Recomecemos...
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