6 de outubro de 2020

os meus cinco minutos # 42

 Experienciamos uma instância histórica e social que poderá, eventualmente, num futuro próximo, condicionar o modo como concebemos o ato social – a consciencialização de uma pandemia a nível mundial, o COVID19.

A catadupa de acontecimentos inusitados e o seu impacto direto no nosso quotidiano faz-nos repensar a conceção que temos do meio circundante, bem como das escolhas que decidimos tomar nas nossas vidas. O que define a Humanidade e a separa da brutalidade de outras espécies é, precisamente, o compromisso social. Existimos, porque existimos em sociedade. Estoicismos à parte, o coletivo não nos é alheio. De facto, a atual pandemia veio expor a fragilidade humana, pôr o dedo na ferida, alimentar adamastores e mostrengos e medos insondáveis. Na sua democraticidade, o coronavírus é o denominador comum entre ricos e pobres, transpondo países e raças e questões de género com o mesmo desprezo e desdém. Entretanto, não nos resta outra opção senão isolarmo-nos entre quatro paredes e esperar que Salazares e Mussolinis e Francos passem, sem destruírem tudo à sua volta.
Então, a irrelevância de sermos humanos emerge. Afinal de contas, deparamo-nos com um facto inviolável: morremos. Por instantes, iguais no medo e na morte, todos nos ajoelhamos a Deus ou à ciência na ânsia de uma solvência célere e certeira. Fechados em casa, comprovamos, enfim, como estávamos distantes de nós mesmos e do que realmente importa. Reparamos que, se Deus existe, não habita nos cacarecos lá de casa nem tampouco nos facebooks.
À distância, descobrimos, com este vírus, que somos muito mais do que indivíduos isolados, embora nos tenhamos tornado meros observadores de uma vida que já não reconhecemos e que não sabemos se algum dia regressará.


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