Por este caminho, e com a crescente desmotivação dos alunos
do secundário relativamente à disciplina de Português, dentro de alguns anos, arrisco
afirmar, ninguém estará francamente disposto a conhecer os clássicos da
literatura portuguesa e, muito provavelmente, os conceituados autores
portugueses não serão mais da lei da morte libertados.
A literatura tem os seus dias contados e há quem assevere
que Camões é dispensável, O Livro do Desassossego, de Pessoa, também e
Padre António Vieira deverá ser exterminado (se o quisermos estudar, teremos de
ir para o Brasil, o que é algo, assim, a puxar para o irónico).
- Não é o fim do mundo, por deus! Não vamos precisar disso
para nada. – bocejam, aborrecidos, os alunos do secundário que escolheram a
componente científica e rosnam quando são confrontados com Pessoas e Saramagos
e o caneco.
O lirismo, não há dúvida, tem vindo a dourar os textos de
referência da nossa civilização e é essencial para uma reflexão madura sobre o
presente e, sobretudo, sobre o futuro.
Esta renúncia aos clássicos resume-se a um punhado de vazios
projetado meramente para a sobrevivência quotidiana e primária, sem cogitar o
que supera a realidade tangível.
Posto isto, vamos fazer as contas.
Vivemos matematicamente absortos dos ideais que importam, valorizando
bens materiais e superficiais, em detrimento do que é realmente fulcral, recusando
o intelecto que apenas subsiste em nós.
A simplificação do ensino e dos conteúdos programáticos não
pode confluir no depaupero dos saberes, sob pena de se entorpecer o entendimento
e a razão. A ideia de que a aprendizagem aprofundada dos escritores portugueses
deveria ser abolida ou diminuída e sujeitar-se unicamente aos alunos de
humanidades é grave.
Muito provavelmente, o abandono do ato
de interpretar e de analisar é um dos principais motivos da crise que
atravessamos – que é cultural antes mesmo de ser económica, política ou social.
Se tal se concretizar, a educação cultural dos portugueses
virá a ser de uma verticalidade oca e a recessão portuguesa, juro-vos, não será apenas económica.
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