Um dos últimos livros que li, nestas férias, foi O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Na realidade, e fica aqui entre nós, não morri propriamente de amores pela obra.
Aliás, a história principal era constantemente cortada e recortada por pequenas tiras de estórias secundárias e isso aborreceu-me imenso.
À exceção da primeira subestória, sobre a qual me debruço aqui, não apreciei muito as restantes.
Deixo-vos com o resumo da obra.
Há dezenas e centenas de anos, na Dinamarca, havia uma grande floresta onde morava um Cavaleiro com a sua família. A maior festa do ano era no inverno, na noite de Natal, em que havia sempre azáfama em sua casa.
Certo Natal, aconteceu algo inesperado.
Terminada a ceia, avisou que, dali a um ano, partiria em peregrinação à Terra Santa para passar o Natal seguinte na gruta onde Cristo nascera. Também ele queria rezar ali. Partiria na primavera seguinte e, dali a um ano, estaria em Belém. Após o Natal, regressaria novamente e, daquele dia a dois anos, estariam reunidos.
Naquela altura, ir da Dinamarca à Palestina era uma grande aventura.
O Cavaleiro chegou à Palestina e seguiu para Jerusalém.
No dia de Natal dirigiu-se para a gruta de Belém onde rezou toda a noite.
No final de fevereiro, partiu para o porto de Jafa, onde foi obrigado a esperar pelo bom tempo; só embarcou em meados de fevereiro.
Finalmente, chegou à cidade de Ravena, nas terras de Itália.
O Mercador disse ao Cavaleiro para ir com ele até Veneza e assim foi.
O Cavaleiro nunca tinha imaginado que pudesse existir no mundo tanta riqueza e tanta beleza.
O Mercador alojou-o no seu palácio. Do outro lado da varanda via-se um palácio onde morava Jacob Orso.
Antigamente, também tinha morado ali Vanina, a rapariga mais bela de Veneza. Ainda criança, Orso prometeu-a em casamento a um parente seu chamado Arrigo. Quando ela fez dezoito anos, não quis casar com ele, pois era velho, feio e maçador. Então, o tutor fechou-a em casa e nunca mais a deixou sair senão em sua companhia, ao domingo, para ir à missa. Durante os dias, suspirava e bordava. À noite, debruçava-se na varanda do seu quarto e penteava os cabelos loiros e compridos. Os jovens rapazes de Veneza vinham ver Varina pentear-se, mas nenhum se aproximava, pois Orso anunciara que mandaria apunhalar aquele que ousasse namorá-la. Um dia, chegou a Veneza um belo homem que não temia Jacob Orso. Chamava-se Guidobaldo e era capitão dum navio. Certa note, Guidobaldo viu Vanina a pentear os cabelos e apaixonou-se. Passado um mês, foi bater à porta do tutor pedir a mão de Vanina. O homem deu-lhe um dia para sair da cidade. Nessa mesma noite, os dois afastaram-se numa gôndola e sumiram no nevoeiro de outubro. Na manhã seguinte, o navio de Guidobaldo já tinha desaparecido. Vanina e Guidobaldo casaram e nunca mais foram encontrados.
Esta estória termina e continua, novamente, a narrativa do Cavaleiro.
Em conversas, festas, ceias e passeios passou-se um mês e, dali a três dias, o dinamarquês deixou Veneza montado num cavalo. Aconselhado pelo Mercador, a meio da viagem para Génova, resolveu fazer um desvio para Florença.
No princípio de maio, chegou a Florença e procurou a casa do Banqueiro, onde ficou hospedado.
Ali, ao contrário da sua terra, os homens falavam sabiamente de matemática, astronomia, filosofia, estátuas antigas, pinturas, poesia, música, arquitetura.
Mais uma vez, interrompe-se a narrativa principal para ouvirmos a estória de Giotto, um pintor discípulo de Cimabué, o primeiro pintor de Itália.
Mais à frente, é-nos igualmente relatada a estória de Dante, um amigo de Giotto que ele retratou e que foi o maior poeta de Itália.
O Cavaleiro, maravilhado, resolveu demorar-se mais algum tempo naquela cidade.
Passou um mês.
Dentro de três dias, partiu mas, a pouca distância de Génova, adoeceu.
Foi bater à porta de um convento e, após cinco semanas de descanso, continuou o seu caminho. Dirigiu-se para Génova.
Era final de setembro e todos os navios que seguiam para a Flandres já tinham partido.
Resolveu seguir viagem por terra, a cavalo, até Bruges.
Depois, dirigiu-se para Antuérpia, onde foi recebido pelo Negociante flamengo, em sua casa. Lá, um dos capitães dos seus navios começou a falar das suas viagens e mais uma estória começa.
Em novembro, partiu.
Caminhou durante longas semanas.
Na véspera de Natal, ao fim da tarde, chegou a uma pequena povoação que ficava a poucos quilómetros da sua floresta. Aí, foi recebido com grande alegria pelos seus amigos que o julgavam perdido. Emprestaram-lhe um cavalo e, na madrugada seguinte, dia 24 de dezembro, partiu.
Chegou à pequena aldeia dos lenhadores e partiu novamente.
Às páginas tantas, o nosso heróis estava, irremediavelmente, perdido.
Para piorar a situação, apareceram lobos.
O dinamarquês rezou e, na massa escura dos arvoredos, cresceu uma pequena claridade.
Tudo brilhava.
Apercebeu-se de que não era uma fogueira.
Era a clareira de bétulas onde ficava a sua casa.
Os anjos do Natal tinham-na enfeitado com dezenas de pequeninas estrelas para o guiar.
É por isso que, na noite de Natal, se iluminam os pinheiros.
Vitória, vitória, acabou-se a história!
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