11 de maio de 2017

leitura em dia # 14

A última obra que tive pela frente foi A Fada Oriana, de Sophia de Melo Breyner.
Na realidade, este foi o primeiro livro a sério que li na vida, andava eu na terceira classe.
Achei-o verdadeira e inequivocamente mágico.
Devorei-o.
Depois disso, voltei a lê-lo algumas vezes, há muitos anos. Provavelmente décadas, mas adiante.
Posso dizer-vos que a história é deslumbrante.
Que fala de uma fada boa, a fada Oriana, que fez uma promessa à Rainha das fadas que consistia em tratar dos animais, das plantas e dos homens que viviam na floresta.
Assim, tinha de tomar conta do moleiro, do lenhador, da velha que era quase cega, do homem muito rico e do poeta.
Certo dia, a fada encontrou um peixe que estava fora de água e salvou-o.
Nesse instante, viu o seu reflexo na água do rio e apaixonou-se pela sua própria imagem.
Passaram-se meses e a fada apenas se contemplava nas águas do rio e apreciava a sua beleza infindável.
Aos poucos, foi-se desviando das suas tarefas e deixou de cumprir a sua promessa.
Claro que deixar de cumprir uma promessa é algo muito sério e que traz consequências devastadoras.
Então, um dia, a rainha das fadas apareceu a Oriana e, como castigo, tirou-lhe as asas e a varinha de condão.
Oriana passou apenas a ser apenas uma menina bonita. E o mundo está cheio de meninas bonitas.
Embora se arrependesse amargamente do seu comportamento, a rainha das fadas deixa-a percorrer um longo e tortuoso caminho em que se cruza com o sofrimento que provocou aos outros.
No final, quando a velha que era quase cega se engana e cai no abismo, Oriana esquece-se de que não tem asas, atira-se no vazio e agarra-a pela perna, caindo com ela.
É nesse instante que a rainha das fadas aparece, lhe devolve as asas e a varinha e condão, e todo o equilíbrio se restabelece à sua volta.
Quando era criança, achava que a fada Oriana era o máximo. Sim. Tinha cometido um erro, mas era apenas um deslize. Afinal de contas, quem é que nunca teve um deslize na vida?
Mas, desta vez, quando li novamente o livro, irritou-me plenamente o raio da fada estar sempre a culpar a porcaria do peixe pelos seus atos.
Fada Oriana, a culpa de não teres cumprido a tua promessa não foi do peixe. A culpa foi única e exclusivamente tua. Mete isso na cabeça de uma vez por todas!
Eu sei que o peixe não era flor que se cheirasse, que, no final, foi um grande ingrato por não ter estado ao teu lado quando mais precisavas, ainda para mais devendo-te a própria vida. Ok. Mas não o culpes pelo teu narcisismo, pelo teu abandono e pela tua falta de caráter quando todos os seres vivos dependiam única e exclusivamente de ti.
Assim que aceitares isso e assumires as tuas responsabilidades, voltamos a ser amigas, ok?
De 1900 e troca o passo, com as folhas a caírem, mas bem estimadinho.

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