É de manhã. O céu parece embaciado, de uma luz tímida e pueril. Boceja, sem pressa.
Estamos numa escola; daquelas de tijolo de burro, todas iguais, divididas em blocos.
As janelas das salas espreitam o amplo recinto de alcatrão, ansiosas, de cabeça ao ar e pestanas tremidas.
Já deve ter tocado para o intervalo.
Os corredores e os bancos ganham volume, incham, rebentam pelas costuras. Ouvem-se zunzuns e gargalhadas. Vêem-se cabelos a voar, bocarras a rir e a comer, sapatos que palmilham o chão, velozes, e depois estacam.
Reparo num rapaz deficiente, de cara alegre e risonha, que se dirige a uma miúda gira; é, provavelmente, a miúda mais gira que ali está.
Ele tem a cara achatada e o corpo sumido, curvado. A cabeça cai-lhe, de vez em quando, bruscamente, para o lado esquerdo e volta a endireitar-se, em poucos segundos. Está nisto o tempo todo.
Ela tem o rosto perfeito: os lábios delineados, os olhos docemente rasgados; e o cabelo perfeito, dourado, e o corpo perfeito, de menina-mulher.
Ele diz que a ama e tenta abraçá-la.
Ela, o dobro dele, grita e rosna e empurra-o com força, sem medo de aleijar. - Não me toques! Vai-te embora! Metes-me nojo! - e volta a empurrá-lo, com força, e ele continua apaixonado.
Sem comentários:
Enviar um comentário