Depois de Rosa, minha irmã Rosa, da grande senhora Alice Vieira, que foi uma doçura de livro, atirei-me de cabeça para o Pedro Alecrim, de António Mota e, digo-vos, mal sabia eu onde me ia meter.
Foi um verdadeiro pesadelo.
Desculpem-me, mas foi.
Não estou a exagerar.
De todo.
Temos de ser sinceros e pôr as cartas na mesa.
A história é francamente amarga e deprimente.
Desanimadora, até.
O Pedro Alecrim e o amigo viviam uma vida de dificuldades e adversidades. Estudar era um privilégio para uns, uma tortura para outros e algo meramente banal e corriqueiro para poucos.
O trabalho em casa tinha de ser feito e o trabalho no campo era pesado. Não havia tempo nem desculpas para poderem ser crianças.
Entretanto, o escritor arremessa-nos um ou outro episódio de bullying, um divórcio inesperado pelo meio, a doença grave do pai de Pedro, com sangue para aqui, sangue para acolá, e uma mãe que envelhecia com o trabalho e o sofrimento, e emagrecia até quase se lhe verem os ossos.
E depois, como se não bastasse, ainda tropeçamos na morte do pai de Pedro.
Assim.
Crua.
Dura.
Como um tapete que nos é puxado por baixo dos pés.
Chocou-me a descrição dos móveis a serem arredados da sala para que a urna entrasse; o cheiro a velas, que é, a bem dizer, o cheiro dos funerais e dos mortos.
Temos ainda o amigo, no final da história, que vai trabalhar para a cidade, mas que é enganado no trabalho e, em vez de servir às mesas num café, vai lavar garrafas para o quintal, lá atrás. Para cúmulo, não sabe quanto vai ganhar ao fim do mês, pois foi o irmão que combinou tudo com o patrão. Tem, obrigatoriamente, de ajudar a pagar as contas da casa que partilha com o irmão e a cunhada (que parece ser um pequeno Hitler) e tem ainda de pagar a lixívia que é usada na sanita devido ao mau cheiro, pois a cidade revela-se barulhenta e putrefacta, e as saudades apertam.
Pronto.
Ufa!
Já está!
Que alívio!
Estão a ver como não exagerei?
Não quero ser injusta, mas este foi o livro mais triste e deprimente que já li, escrito de uma forma simplista, com uma linguagem quase infantil, dirigido às crianças.
Espero que o Bernardo não tenha de ler o Pedro Alecrim no 6º ano.
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