1 de fevereiro de 2020

os meus cinco minutos # 39



Camões, tal como Fernando Pessoa, procura enaltecer o povo português, evocando os feitos que o torna singular.  Este herói coletivo, predestinado para chegar mais além, destaca-se pelas suas “obras valerosas”, sendo cantado numa dialética material/ onírica.


Em Os Lusíadas, podemos mencionar um herói de dimensão humana e histórica. Os protagonistas que dão voz a esta epopeia são Vasco da Gama e os marinheiros portugueses que se sagram na diáspora dos Descobrimentos, na sua viagem marítima até à Índia.  São, assim, valorizados pela sua ousadia e coragem perante o desconhecido, superando a sua própria condição humana e sendo elevados à categoria de deuses. Tal verifica-se na recompensa pelos seus atos, no capítulo IX, na Ilha dos Amores, destino reservado aos deuses.

Já na Mensagem, o herói não se inscreve num tempo ou num espaço determinado, assumindo uma vertente mítica/ simbólica. D. Sebastião representa a ambição e a coragem espiritual que podia fazer renascer a glória da pátria. Aqui, Pessoa atribui um caráter contemplativo ao herói, como é o caso de D. Dinis, que age como instrumento da vontade divina. Agora é “A Hora”, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Falta cumprir-se Portugal num plano cultural e civilizacional e a crença na edificação do Quinto império consagra-se na frase “Valete, Frates”.

Em suma, ambos os autores têm como missão a valorização dos atos dos portugueses, com vista ao alavancamento da identidade nacional numa conjuntura política, económica e social fortemente debilitada.

A morte de Portugal é a semente para a ressurreição messiânica de um povo eleito que se irá erguer das cinzas.

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