10 de setembro de 2019

os meus cinco minutos #35

O décimo segundo ano de Português gira, exponencialmente, à volta de Fernando Pessoa.
Um Pessoa que cria outras pessoas dentro de si, que se coadunam, sobremaneira.
O início do século XX, com os seus ismos, é a força de tração para a desfragmentação do eu que se desdobra em vários eus.
 No século XXI, torna-se claro que Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos fazem parte integrante da existência humana.
Nós somos o ortónimo, com os nossos quês e senãos.
Indivíduos frágeis, precários.
Nós.
Depois, o Nós pede a existência dos Outros.
Um ser livre e descontraído que clama pela não metafísica. Que renuncia ao pensamento e às regras e põe para trás das costas os dogmas e o formalismo semântico, lexical e sintático..
Um ser contido e pagão que se recusa à entrega e que se esconde por detrás de máscaras e medos, pois teme a verdade e mais ainda o tempo que passa e o términos da sua existência. Um ser que carrega consigo a régua e o esquadro e o compasso e a fita métrica e diz que não ao amor. Por outras palvras, o não comprometimento por associação ao não sofrimento.
Um ser deprimente, à conquista de novas sensações, um ser esquizofrénico, que grita com a máquina, que se sacia com a velocidade, mas que não encontra paz dentro de si. Que desce aos infernos e sente falta da infância que ficou para trás e já não volta e já só resta o aniquilamento.
Estes todos são um só, em doses maiores ou mais reduzidas.
Somos nós.
Eu e tu.
E todos os outros.
Fazemos desporto e estamos em consonância com a natureza. A nossa mente está vazia. E, se não está, vamos treiná-la para que esteja.
Fazemos dieta e temos em nós um rigor reisiano que contempla os números marcados na balança.
Andamos num carrossel e sentimos a adrenalina camposiana e a deceção de uma infância que já não volta.
És ou não, também, um punhado de eus que se reescreve em outros em busca de alguma sanidade mental?

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