30 de julho de 2019

os meus cinco minutos # 34

Nos tempos que correm, o vagar tem sido esquecido.
Erradicado.
Puff!
As nossas rotinas são, diariamente, contaminadas e desgastadas por pressões alheias que não conseguimos controlar ou evitar.
Decidimos, de facto, alcançar objetivos e metas o mais rápido possível, sem olhar a meios.
Não há tempo a perder!
Tique-taque-tique-taque-tique-taque.
Os sentimentos, os que há, são velozes e descartáveis e, só deus sabe!, incomodam e atrasam.
Uma perda de tempo.
Apenas os resultados importam. 
Apenas isso.
E talvez o dinheiro.
 Sim, o dinheirito, no final do mês, faz falta.
Nada mais.
O ritmo das nossas vidas torna-se, então, atroz; inumano.
Os horários milimetricamente delineados empurram-nos para um afastamento peremtório e voluntário da esfera privada que passa, automaticamente, para segundo plano, juntamente com a família e os sentimentos e as emoções e sabe-se lá o que mais.
Ninharias.
A primeira palavra do nosso filho.
O 80° aniversário do avô.
Jantares em família.
Pequenos quês.
E mesmo aí, nessa pequena esfera que tende a ficar cada vez mais pequena, impossivelmente mais pequena!, estamos, inevitavelmente, disponíveis e contactáveis.
Quando damos conta, habitamos, então, uma Feira de março emocional, sem paredes nem fronteiras que confiram privacidade ou humanidade às nossas vidas ocas e mesquinhas, 
quinhas, 
quinhas,
nhas,
shhh!
O que perdemos e fica para trás já não volta e a velocidade estonteante a que nos entregamos devora-nos e impede-nos de existir.

E se tapássemos os ouvidos ao exterior, de vez em quando, como os garotos, e começássemos a gritar lá-lá-lá, muito, alto, ao mundo?

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