10 de março de 2019

os meus cinco minutos # 30

Sem querer meter o bedelho no assunto ou puxar a brasa à minha sardinha, ainda tenho umas contas a ajustar com os benditos Os Lusíadas.
Sim, eu sei.
A obra foi escrita, literalmente, há séculos e não são contas do meu rosário, mas há coisas que têm de ser ditas, para não deixar margem para dúvidas. Ok?
A obra é, de facto, excelente, um ícone da literatura portuguesa que destaca a grandeza épica dos Descobrimentos e que merece todo o respeito e consideração, mas não consigo, desculpem, mas não consigo ficar indiferente ao malogrado canto IX.
Pronto.
Já disse.
Camões que me desculpe, mas sempre que tenho de enfrentar as estâncias 52 a 91, dá-me logo um aperto no peito que poderia muito bem ter sido evitado.
Não me interpretem mal, que eu amo Os Lusíadas de coração, mas por que raio os marinheiros portugueses, elevados à categoria de deuses, de deuses!!!!, tinham de ser premiados com uma ilhota qualquer repleta de gajas seminuas, ninfas, calma, eram ninfas (esqueçam lá  o status social das senhoras), mas ainda assim seminuas, numa atmosfera claramente renascentista  e naturalista, a saltitar por ali, a porem-se a jeito, é o que é, com o intuito de honrarem aqueles que descobriram o caminho marítimo para a Índia, aqueles que largaram tudo e enfrentaram o desconhecido e fizeram o que mais ninguém conseguiu fazer?


Quanto a vocês, não sei, mas este prémiozeco a-puxar-o-mixuruca, insulta a minha inteligência e todos os anos lá tenho de gramar a pastilha.
Esta caçada humana, a fazer lembrar os Hunger Games do século XVI, com joguinhos de prazer, patatis patatás e pardais ao ninho, parece-me mais primitiva e diminuidora para um povo tão altivo do que o stand de um mecânico que ostenta o mês de março com uma lambisgóia loira de mamas catastroficamente grandes e cuequinhas de cetim vermelho.
Caramba!
Não havia por lá uma maquineta do tempo, poderes da lava, uma vidita imortal ou outra, ou, sei lá, algo assim mais para o intelectual???
Caiam-me em cima, mas não consigo imaginar uma única obra de Shakespeare com este desfecho simplório e damasiano.
Não  consigo.
Mas, enfim, quem sou eu para desdenhar o Sr. Camões?
Ainda para mais, pelo que pude perceber, ninguém se queixou do prémio, nem eles, nem elas...

(se bem que elas, incautas, já  não estavam sóbrias por aí além, que o estafermo do cupido, a mando de Vénus, já tinha despachado o assunto e tinha ferido antecipadamente as fermosas donzelas para receberem os heróis épicos, uma droguita, senhores, cousa pouca, para que se rendessem aos mancebos, uns casados e outros não, sem resistência, provavelmente sem se lembrarem de nada ao outro dia. Uma droguita. Ossos do ofício.)

Vá, chicoteiem-me agora em praça pública, açoitem-me, queimem-me viva ou, pior, falem mal de mim nas costas, que eu já estou por tudo.
Tenho dito.

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