21 de fevereiro de 2018

os meus cinco minutos # 22

Os divórcios estão na moda.
Estão na moda, porque toda a gente tem o direito de ser feliz e seguir com as suas vidas ou porque, às vezes, custa muito tentar e é mais fácil desistir.
Seja o que for.
Estão na moda, os divórcios.
Também está na moda as mães acharem que é fixe quando os miúdos vão de fim de semana para casa dos pais.
Têm mais tempo para elas.
É o que dizem.
Não uma, nem duas, mas a maioria das mulheres que conheço.
"É tão bom."
"Tenho mais tempo para mim."
O que é isso "Mais tempo para mim"?
Não compreendo muito bem o que significa.
Conseguem imaginar?
Imaginar a casa a ficar fria e vazia e deserta e árida quando um filho não está?
Ver crianças na rua, a rir, aos saltos, com os pais, e faltar-nos a mão cheia com a mãozita delas.
Faltar-nos o corpo varrido com abraços e o rosto a abarrotar de beijos.
Ouvir crianças a fazer uma birra, mas não termos a nossa ali para rirmos muito ou ralharmos com ela.
É, certamente, um pedaço que nos tiram.
Há um silêncio tão grande dentro de nós que grita tão alto que quase ficamos surdas.
Se calhar não é silêncio.
Se calhar é solidão.
É, certamente, solidão, mas custa admiti-lo.
Mas o pior, o pior é atravessarmos o corredor lá de casa.
Isso é que é o pior!
Atravessarmos o corredor lá de casa que, dantes, era pequeno e, agora, quando não estão, cresceu e se tornou grande, mas tão grande, que nos custa chegar até ao fim.
Alguém sabe ou sonha ou imagina o que dói passar pelo quarto de um filho e ele não estar lá???
Está vazio!
Alguém?
Ter tempo para nós?
Qual tempo para nós?
Temos tempo de sobra para nós.
Na cozinha.
Na cama.
Na banheira.
No trabalho.
Nas leituras.
Nas limpezas.
Temos tempo de sobra para nós.
Mas e o tempo que demoramos a atravessar o corredor de casa, que cresceu, e nunca mais acaba?
E o quarto que está vazio?
E o casaco da criança que ficou pousado na secretária, desarrumado, e temos todo o tempo do mundo, agora, para arrumá-lo, mas já não queremos?
E os chinelos que se esqueceu no nosso quarto e que agora não tem importância nenhuma não estarem no sítio certo?
E a pasta dos dentes que não ficou tapada e que já não importa se ficar assim?
E tudo o que pedia, tudo o que pedia neste mundo, era, por favor, por favor!, ter menos tempo para mim.
Conseguem imaginar?

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