23 de novembro de 2017

os meus cinco minutos # 21

Sou preto.
Nasci preto e sou assim desde que me conheço.
Há quem prefira chamar-me negro ou de cor ou cor de chocolate.
É-me igual.
Não me importo.
Não acho que isso seja muito importante até porque tenho um nome, o que facilita imenso as coisas.
Claro que quando somos diferentes os nomes são desvalorizados.
Preferem dizer Olha o preto!
Basta ser diferente para termos um rótulo.
Também não podemos ser muito gordos, nem muito magros.
Nem demasiado altos, nem demasiado baixos.
Nem demasiado feios, nem demasiado bonitos.
Há uma rapariga na minha turma que é demasiado feia e ninguém fala com ela.
Há outra que é demasiado bonita e as amigas falam mal dela quando ela não está.
Basicamente, eu sou demasiado preto ou demasiado negro ou demasiado de cor ou demasiado cor de chocolate.
Também me visto mal.
O que é o mesmo que dizer que não tenho nada de marca.
Não tenho umas sapatilhas da Adidas, como todos os rapazes da minha turma.
Ah!
Pois!
Também sou o pobre!
E o colega da minha carteira é o filhinho dos papás, pois é demasiado rico e veste-se só de marca e isso incomoda os outros.
Já te sentiste assim?
Diferente?
Já te taparam a boca e os olhos e deixaste de ser quem és por causa dos outros?
Às vezes, apetecia-me ser branco e menos pobre e igual a todos os outros para passar despercebido e ninguém reparar em mim.
Mas assim a vida não tinha piada nenhuma.
Vamos ser pretos e gostar de ser pretos e não nos importarmos com isso?
Vamos ser caixas de óculos e aceitar que somos assim?
Vamos ser altos, mesmo altos e não ter de dar satisfações a ninguém?
Vamos ser como somos e deixar de nos importar tanto com o que os outros pensam?
Vamos ser diferentes?

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