Conheci a Ana e a mãe da Ana na esplanada do Palhota, em Armação de Pêra.
Conversámos pouco, enquanto eu bebia uma Super Bock e a paisagem olhava para mim e eu para ela - parecia que nos conhecíamos há muito!
Conversámos sobre as férias e sobre o trabalho e sobre o tempo.
São trivialidades que funcionam sempre quando não conhecemos muito bem a pessoa que está à nossa frente.
O tempo está fantástico!
Que dias agradáveis, estes!
A água está boa, mas estava mais quente o ano passado, sabe, nós temos casa aqui. - alguém responde, neste caso, a mãe da Ana.
Coisas assim.
A mãe da Ana, muito loura, louríssima, falava do marido, que era médico, que trabalhava no hospital não sei das quantas, que era um lente, que ganhava bastante bem e que estava sempre a viajar, por isso não estava com elas, ali.
Estava em Angola ou no Dubai ou onde quer que fosse.
A Ana era professora e não tinha ficado colocada no ano anterior e neste logo se veria, que devia ter escolhido outro curso, não aquele, que não tinha saída e que não servia para nada e nós bem a avisámos, mas ela não quis saber.
A Ana teria uns vinte e poucos anos e possuía uns grandes olhos escuros.
Só me lembro disso mesmo, dos seus grandes olhos escuros, profundos como um poço; tão profundos que quase conseguia atirar-me lá para dentro e afogar-me neles.
Queria comprar um chapéu de palha para a mãe, mas não tinha assim muito dinheiro.
Conseguiu comprar um por cinco euros, disse-me.
Não podia gastar mais do que isso, mas o chapéu era lindo.
Saiu da loja com um saco na mão e um sorriso no rosto.
Ah! Sim. Também me recordo do sorriso da Ana.
Só o vi, realmente, depois de comprar o chapéu para a mãe e depois de sair da loja com o saco na mão.
- Toma. - entregou-o à mãe.
Novamente o sorriso. O tal sorriso grande que lhe preenchia todo o rosto e lhe escondia o nariz e até os olhos, os grandes olhos da Ana.
- O teu é mais bonito. - respondeu-lhe a mãe. - Foi o meu marido que lho deu o ano passado. Veio da Tunísia. Deve ter custado uma fortuna. É lindo, não é? - voltou-se mim, nos seus grandes caracóis e no seu batom que tingia levemente os dentes da frente.
Sim, era.
Era um chapéu grande, enorme, aliás, com uma tira de linho rosa-velho e mil e um pompons, ali, agarrados, com unhas e dentes, de todas as cores, e uns quantos búzios e umas argolas douradas a miarem para quem passasse.
No dia seguinte, a mãe comprou um novo chapéu para si.
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