29 de agosto de 2017

os meus cinco minutos # 15

Na realidade, as férias em Armação de Pêra não foram só um mar de rosas.
Tiveram um contratempo um pouco desagradável.
Poderia não falar dele aqui, pois não é algo bonito de se dizer.
Não é.
Mas alguém tem de o fazer.
Como devem imaginar, a Ippon veio connosco de férias.
E portou-se muito bem.
Claro que andava com saudades das irmãs-gatas, mas isso é como tudo na vida...
Andava cabisbaixa, com a cauda murcha, a varrer o chão, com os olhitos húmidos e tristes.
Dava dó!
Mas a vida continua e lá íamos, todos os dias, com a bicha à rua para fazer as necessidades fisiológicas e para ver se animava um bocadito, que bem precisava.
E é sobre isso mesmo que venho aqui falar hoje: de cocós.
Precisamente.
Cocós.
Pronto.
Já disse.
Não são um ou dois ou meia dúzia deles.
São dezenas e dezenas de cocós, que um cão tem de se aliviar conforme pode e todos nós compreendemos isso com maturidade.
Uma coisa excelente em Armação de Pêra é que encontramos com facilidade um depósito de saquinhos para dejetos caninos.
O que é bom.
É bom, pois sempre poupamos algum dinheiro e o objetivo é ter a cidade limpa.
Posto isto, a primeira vez que saí à rua sozinha com a bicha e me deparei com um mecanismo destes, ergui as mãos ao céu, agradecida, e até fiz o trajeto mais feliz e tudo.
Parecia que nada poderia estragar aquele momento de felicidade extrema e incondicional.
Imaginem só, eu, a bicha e um saquinho de cocós à borlieu, na mão, prestes a ser usado.
E foi.
Passados poucos minutos.
Tau, a bicha lembrou-se de fazer três cocós, desculpem lá o preciosismo da coisa, mas três cocós de tamanho jeitosinho, mesmo no meio da estrada.
Imaginem só a minha fronha quando vejo um carro a aproximar-se, a bom aproximar, do local da descarga, eu com a mão dentro do saco, pronta a apanhar tudinho e nervosíssima para não ser atropelada naquele momento delicado.
Ser atropelada no momento em que estamos a apanhar cocós, convenhamos, não é algo assim de que nos possamos gabar.
Consigo antever o título que poderia surgir numa notícia de jornal, após um incidente deste calibre: "Mulher é atropelada no momento em que se prepara para apanhar cocós" ou "Mulher aveirense é suspeitamente atropelada com cocós na mão", ou ainda "Mulher é atropelada e fica na merda".
Bem, podem calcular o meu desespero.
Não é para menos.
Então, despachei-me a apanhar os benditos dejetos caninos, aflitíssima, com o coração nas mãos, mesmo a tempo de salvar a minha vida, e segui, contente e feliz, pela rua fora; afinal de contas, tinha motivos mais que suficientes para estar feliz: tinha sacos para cocós de borla e não tinha sido atropelada; a vida não podia ser mais perfeita!
Caminhei, então, com a cadela ao meu lado e o saco de cocós na mão à procura de um caixote do lixo para me ver livre daquele empecilho malcheiroso.
Eu, a bicha e os cocós, pelas ruas e ruelas de Armação de Pêra, de férias, sem preocupações.
Parecia o cenário ideal.
Mas, na verdade, algo parecia não estar a correr assim tão bem.
Caminhei cinco minutos seguidos sem encontrar um único caixote do lixo.
Cinco minutos a bom caminhar!
Comecei a sentir-me ridícula.
Para ser sincera, comecei a sentir que passeava os cocós pelas ruas, em vez do cão.
Que posição ingrata, pá!
E quanto à merda do caixote do lixo, nem vê-lo.
Continuei a minha saga em vão.
Passeei uns bons quinze minutos com a merda dos cocós na mão e caixote do lixo, nem vê-lo.
A situação começou a ficar descontrolada.
A porcaria dos cocós começaram a mexer com o meu sistema nervoso.
Caramba; eram eles ou eu!!
Juro, apeteceu-me atirá-los para o chão, assim, a frio, mas detesto poluição e isso estava fora de questão.
Ainda pensei regressar ao Apartotel com a cadela e a porcaria dos cocós, mas isso seria degradante. Imaginem só o exemplo que daria ao meu próprio filho, do género, iuuupiii, hoje, trouxe cocós para casa!! Sou uma mãe mesmo porreira!!!
Também não!
No desespero, virei-me para um senhor velhote que caminhava ao meu lado e que parecia olhar para os cocós de lado, altamente desconfiado, e perguntei-lhe - Não existe um único caixote do lixo em Armação de pêra?
Ao que o senhor me indicou um caminho, que levou mais cinco minutos a percorrer, com caixotes de lixo a dar com pau (nas proximidades, só havia dois sítios com caixotes do lixo).
Ainda caminhei com os cocós, lado a lado, durante mais algum tempo que me pareceu uma eternidade e, finalmente, soltei-os no sítio certo.
Conclusão: cheguei a casa praticamente com uma ou duas insolações no lombo, uma bicha exausta, exposta ao calor algarvio da hora de almoço e sem cocós, felizmente, sem cocós.
Se alguém tiver conhecimentos em Armação de Pêra, por favor, passem a palavra, para não se verificarem mais situações deste género.
Tenho dito.

Sem comentários:

Enviar um comentário