Mas não passa a voar, não.
Que tolice!
Mesmo quando olho para o Bernardo, não penso que o tempo passa a voar.
Levou imenso tempo esperar que as malditas cólicas passassem, quando era bebé, os oh, oh, oh, já passa!, que fomos desfiando e cantando, com ele nos braços, para cima e para baixo, para cima e para baixo, para cima e para baixo; que caminhasse de uma vez, que nunca chegou a gatinhar sequer, que não esteve para aí virado; que largasse as fraldas e o biberão; que dormisse sozinho no quarto, como um homem; que aprendesse a ler e a escrever.
Ufa!
Levou tanto tempo, caramba!
Porque eram expectativas.
Umas atrás das outras.
Quase apetecia riscar traços na parede, correspondentes ao número de dias que teimavam a passar, palermas.
Tudo levou o tempo certo.
Tudo.
E foi tão bom vê-lo crescer!
Foram as pequenas conquistas que nos deixaram de sorriso nos lábios e nos fazem, hoje, recordar.
Há pouco, estava a olhar para as paredes do meu quarto e perdi-me nas pinturas que a criança foi gatafunhando com o passar dos anos e que me foi oferecendo.
Quando andava na pré-escola.
Ou quando andava na escola primária.
São só três, as pinturas em tela, mas são um pedaço de mim, já, e emudecem-me e deixam-me a alma intrépida.
Agora?
Agora, claro, vai custar imenso tempo a passar, outra vez, que o tempo não voa!, até que receba mais uma; se é que recebo mais uma, pois os garotos crescem e, não sei lá bem porquê, deixam de querer desenhar e pintar e perder tempo e preferem comprar-nos coisas que acham que nos fazem mais falta.
Que tolos que são os garotos.
(respeitando a ordem cronológica)
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