Na semana passada, foi proposto a uma aluna minha do oitavo ano um trabalho de Português acerca de moda.
Pediram-lhe que observasse imagens de personalidades da Corte Portuguesa dos séculos XVII e XVIII, nomeadamente, D. João IV (1604-1656), Maria I de Portugal (1734-1816) e Dona Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bourbon (1775-1830), e, num texto expositivo, descrevesse a moda atual, tendo em conta o seguinte comentário:
"A partir do século XIX, o valor da qualidade das peças de roupa foi sendo, progressivamente, substituído pela importância da quantidade. Além disso, uma moda única foi ultrapassada pela aceitação de uma moda plural, independentemente dos estratos sociais e culturais."
Inicialmente, admito, fiquei surpresa por este tema - a moda -, aparentemente banal e destituído de qualquer interesse histórico, económico, social ou político, poder, eventualmente, ser discutido numa aula de Português.
Mas reconsiderei em segundos e achei que fazia todo o sentido, pois a moda já não é estanque como era;
vazia;
oca;
apenas para elites.
Obviamente que me passaram pela cabeça mil e uma ideias e formas de poder explorar este tópico, ainda para mais, agora, que terminei de ler o Courrier Internacional e pude refletir acerca do papel da mulher ao longo do tempo, do seu legado em determinadas áreas específicas, passando, inequivocamente, pelo universo da moda.
Apreciada e sublimada, sobretudo, após os Descobrimentos, com a importação de sedas do Oriente, a moda, enquanto fenómeno de catalogação de massas, destinava-se apenas à Corte e pouco mais.
Contudo, esta arte de rua, à semelhança dos adornos indígenas, foi evoluindo, metamorfoseando-se, enchendo-se do ego de cada um, plastificando-se, moldando-se e ganhando um papel algo preponderante na caracterização da nossa personalidade, num enquadramento social.
Muitas vezes associada a estados clínicos obsessivos, a moda descartável dita a relação que cada indivíduo mantém com a sociedade e com a gestão do dinheiro na alimentação de atitudes compulsivas.
Quer queiramos quer não, a moda acaba por nos definir, individualmente, enquanto seres pensantes. A nossa personalidade é refletida na roupa que usamos; ainda que refletamos uma imagem simples, de não-moda, ou não-comunicação; ainda que veiculemos a mensagem de desvalorização da aparência; esta é também uma mensagem.
Num mundo ávido de informação e em constante mutação, a moda
segue, invariavelmente, as tendências do momento.
Todavia, a importância da
quantidade em detrimento da sua qualidade é cada vez mais notória. A moda
torna-se, assim, precária e descartável, à semelhança dos valores perpetuados
por uma sociedade volátil e insaciável.
O acesso rápido e fácil à
informação e às tendências, através das redes sociais e, nomeadamente, dos
bloggers, faz com que tudo seja vivido ao segundo.
Os desfiles de moda acontecem
quase em direto e, por isso, a distância e os timings são esbatidos e o mundo tem
vindo a tornar-se mais pequeno.
Neste sentido, a variedade de escolha e a
criatividade são, pois, francamente estimulados e os ícones de moda deixam de
ser meia dúzia para serem centenas.
Embora, de facto, muitas vezes, no mundo atual, a
qualidade seja posta de parte relativamente à quantidade, na minha opinião, a moda nunca comunicou tanto e com tanta qualidade como agora.
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