Na segunda feira, fomos assaltados.
Estou triste, revoltada e impotente.
Sinto um nó na garganta.
É quase impossível imaginar que alguém tenha entrado em nossa casa, tenha mexido nas nossas coisas, chocalhado o recheio das gavetas, dos armários, das estantes e deixado tudo em pantanas.
É horrível chegarmos a casa e vermos o chão amontoado de tudo e objetos caídos e partidos, e ter a noção, nesse exato instante, de termos sido assaltados.
Ficamos incrédulos e sem saber o que fazer.
O nosso cão que, sempre que chegamos, dá sinal e ladra e salta e chama por nós, desta vez, não está ali e não sabemos o que pensar ou o que sentir.
Não sabemos sequer se o assaltante ainda se encontra em casa.
Ficamos desorientados.
E, então, começamos a espreitar debaixo das camas e atrás das portas, para ver se está lá alguém escondido e suspiramos de alívio quando reparamos que, ali, naquele instante, naquela cama e atrás daquela porta não está lá ninguém.
Mas ainda faltam mais camas e muito mais portas.
Depois, temos de atravessar o corredor e percorrer as divisórias, uma a uma, palmilhá-las com o coração acelerado, a bater muito rápido.
Tão rápido que parece que vai saltar pela boca.
Mas não salta.
Então, chegamos ao nosso quarto e não parece o nosso quarto.
Encontramos uma pilha de roupa esventrada em cima da cama.
Caixas em cima da cama.
Bugigangas em cima da cama.
Pegadas de sapatos sujos em cima da cama.
Vernizes partidos no chão.
O guarda-fatos revirado e despido.
E as gavetas abertas.
Que estavam fechadas antes de sairmos de casa.
E agora estão abertas.
E faltam coisas lá.
Dá-nos um nó na garganta.
De repente, sentimos um movimento estranho na casa de banho e sentimos que está lá alguém.
Temos medo, mas, sem saber como, conseguimos arranjar forças e abrimos a porta.
Afinal, não é o assaltante.
Não, não é.
É o cão que trancaram ali e, graças a Deus, está bem.
É a cadela.
É a nossa Ippon.
Que está assustada.
Que treme por todos os lados e que se atira a nós, de contente.
Está feliz por nos ver e parece dizer "finalmente".
Realmente, é impossível descrever o que vimos e o que sentimos.
Precisava de desabafar isto convosco.
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