O último livro que li foi Os piratas, de Manuel António Pina.
Achei-o francamente interessante.
Trata-se de um texto adaptado para teatro e o enredo faz-nos pensar.
A história gira à volta do naufrágio de um navio e das lembranças de um adolescente, Manuel, o protagonista.
O pretexto para que esta história aconteça gira à volta de um lenço vermelho de pirata, esquecido numa arca, no sótão de Manuel, e de um grande segredo que este conta à sua amiga Ana.
Na verdade, não consegue distinguir se tudo foi realidade ou não passou de um sonho.
O segredo é, então, desvendado.
Era de noite e, do escuro, ouviu-se uma voz vinda das sombras que chamava Manuel. Uma mão pegou na sua e puxou-o.
- Eu sou tu, meu tolo! Vem!
A voz diz-lhe que existe um barco pirata, que a ilha vai ser assaltada e que vão levar as mulheres.
Posto isto, Manuel mergulha no escuro, agarrando-se às escadas. Muito assustado, sobe-as, com medo de ser descoberto. Quando espreita para cima, verifica que se encontra no tombadilho de um navio pirata. O capitão, furioso, descobre-o no seu esconderijo e aponta-lhe a espada, julgando ser um seu grumete. O rapaz ata o bendito lenço à volta da cabeça e regressa, correndo, ao seu esconderijo.
Quando o capitão vê Terra à vista, decide meter os botes à água e gritar:
- Ao assalto! Queimem tudo! Apanhem as mulheres!
Aflito, Manuel tem de salvar a sua mãe.
No seu quarto, incompreensivelmente, continua a ouvir-se a gritaria dos piratas, o barulho das espadas, da tempestade no mar e a voz do capitão, vinda do sótão, a gritar. Ouve-se o ruído dos objetos que tombam do lado de lá da porta, dentro de casa.
Manuel pensa que tem de acordar para salvar a mãe.
Entretanto, abre-se a porta do quarto e a mãe, assustada, entra e acende a luz. Ela teve precisamente o mesmo pesadelo.
Curiosamente, a porta de casa estava aberta, o corredor estava cheio de areia e tudo estava fora do sítio. Manuel encontra-se todo molhado e ainda tem o lenço atado à volta da cabeça.
Subitamente, voltamos ao início do enredo.
Ana ouviu a história e, pensativa, diz que acredita em Manuel.
Na Ceia de Natal, num passado narrado, sabe-se, então, do bendito naufrágio e de um menino inglês, com a mesma idade de Manuel, que vinha no navio. O seu nome era Robert e o seu corpo ainda não tinha aparecido. A mãe e a noiva, de 9 anos, tinham chegado no dia anterior. Neste momento, damo-nos conta de que a menina é a Ana, a amiga do Manuel. Ficamos a saber que um mago disse à senhora inglesa que o filho ainda estava vivo e que se salvou a nado.
Mais tarde, Manuel fica de cama, doente, e Ana aparece para o visitar. Diz-lhe que lady Elizabeth está muito mal. Está convencida que, se chorar, Robert morre. Diz ainda que teve um sonho igual ao do Manuel.
O rapaz conta à Ana que, no dia em que o encontrou na praia com um pescador, este lhe contou o seu próprio sonho. Disse-lhe ainda devia ter adormecido outra vez, porque os piratas regressaram e o capitão gritava com os seus homens para que procurassem o grumete. Andaram de um lado para o outro à sua procura e que, a certa altura, deram com um rapaz estendido entre as rochas. Convenceram-se de que era o Manuel, que tinha caído e desmaiado. Pegaram nele e levaram-no.
Ana apercebe-se, nessa altura, de que levaram o Robert. A solução para este problema passa por deitarem fora o lenço, pois assim, no dia seguinte, não se lembrariam de nada.
Na minha opinião, esta história lança-nos duas realidades paralelas que se intercruzam em momentos diferentes. O pequeno "sonho" de Manuel, que aconteceu, de facto, inexplicavelmente, quando aterrou no navio dos piratas, ditou o destino do Robert.
Um equívoco aleatório roubou Robert à sua mãe.
Poderia ter sido Manuel a desaparecer.
Mas não.
Foi Robert e Manuel sabe-o, por isso se sente culpado.
A história tem um final aberto e, tal como todas as histórias de piratas, possui algum dramatismo e mistério associados.
Qual é a vossa interpretação?
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