Vi, finalmente, o filme francês A Espuma dos Dias de Michel Gondry.
Audrey Tautou, a atriz do magnífico Amélie, faz parte do elenco o que, só por si, já diz tudo.
Este é, sem dúvida, um filme sui generis que nos faz pensar do princípio ao fim.
Existencialista por excelência, não só pela referência constante a Jean-Sol Partre (Sartre), como pelo mundo fantástico, surreal e absurdo, onde tudo é possível e onde tudo é simplesmente maravilhoso e descartável, reflete a cultura do imediatismo e do consumismo capitalista. Aqui, tudo é apresentado com grande aparato, em dose excessiva.
Esta é uma história de amor e de amizade, em que Colin conhece a doce e inteligente Chloé e se apaixona. No início, tudo é perfeito e magnificamente colorido. Colin é rico e vive num comboio com um amigo, Nicolas, e um homem-rato em miniatura. Às páginas tantas, o rato parece ser o próprio reflexo de Colin, um parasita da sociedade que não trabalha e vive de forma fugaz e irresponsável à custa de rendimentos; como um viajante aventureiro que está de partida para outro lugar. Chick é o melhor amigo de Colin e seguidor fanático de Jean-Sol Partre.
A vida corre-lhes bem até descobrirem que Chloé padece de uma doença que a fragiliza de dia para dia. Para além de todo o sofrimento inerente, Colin destrói a sua riqueza e a sua vida, levando-nos com ele na sua viagem acidentada.
À medida que tal acontece, tudo à sua volta parece deteriorar-se e convergir para a fatalidade de um destino previsível com metáforas visuais que suscitam sentimentos claustrofóbicos: as janelas da sua casa tornam-se baças e cobrem-se de uma película acastanhada, impossível de remover; a própria casa parece encolher a olhos vistos e o rato sente-se encurralado. Até Nicolas envelhece invulgarmente, espelhando esteticamente o sofrimento geral.
As máquinas de escrever que acompanham todo o filme parecem traçar o seu destino, agora, de forma desregrada e confusa. Colin bem tenta mudá-lo, algures, mas não consegue, pois o destino parece engoli-lo, inexoravelmente. Aliás, a ideia existencialista de inevitabilidade percorre o filme impiedosamente. Ironicamente, as personagens são autênticas marionetas que não conseguem mudar o rumo da história. Limitam-se a viver e a aceitar os factos tal como são, enquanto assistem a uma contagem decrescente para a fatalidade.
A Espuma dos Dias é, senão, uma crítica cerrada ao consumismo, à religião, ao materialismo, ao aparato e ao parasitismo da nossa sociedade.
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