Albino
Aroso, o médico que criou a primeira consulta de planeamento familiar, um dos principais
rostos da reforma que conduziu à impressionante queda da mortalidade infantil
em Portugal, morreu nesta quinta-feira, no Porto, aos 90 anos. Albino Aroso
alterou profundamente o panorama da saúde materna e infantil em Portugal e foi um
dos principais responsáveis pela inversão da taxa de mortalidade infantil, que
passou das piores para uma das melhores do mundo em poucos anos. Este Senhor,
com letra maiúscula, foi o primeiro médico ginecologista português a lutar
pelos direitos das mulheres em geral e pelo direito à contraceção, contra a
Igreja e os colegas de então. Albino Aroso foi a primeira personalidade a ser
galardoada com o Prémio Nacional de Saúde, em 2006; no ano anterior, tinha sido
considerado pela Associação Médica Mundial um dos 65 clínicos "mais
dedicados" às causas públicas em todo o mundo.
Esta figura histórica da saúde pública
em Portugal receitava a pílula quando a contraceção era proibida. Dito assim
até parece pecado, mas se Albino Aroso não tivesse existido, muito provavelmente,
hoje estaria eu em casa (e mais 99% do mulherio português), rodeada de uns 10
ou 11 Bernardos, a comer bilharacos de manhã à noite, a pesar uns 80 quilos,
com rolos na cabeça e um lenço foleiro às flores, de avental também às flores,
à espera que o Nuno chegasse a casa do trabalho!
A
medicina portuguesa e todas nós, mulheres, estamos de luto, portanto.
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